Faltavam 20 centavos

Pra cair a gota d’água em São Paulo.

Os protestos estão rolando desde semana passada, a cidade fica parada em horário de pico, mas não, não se trata de vandalismo público. É uma revolta com uma situação insustentável que combina uma má qualidade do transporte coletivo (coletivo pra quem, cara-pálida? para os donos da CPTM?), segurança pública precária, preços abusivos para itens básicos (acho meio difícil não encontrar um paulistano que nunca tenha tido vontade de jogar as mãos pro alto no caixa e dizer pro operador: “pode levar o resto!”) e por aí vai. Tudo isso em meio a um misto de histeria coletiva e desinformação, somada a suspiros de quem tem saudade de que coisas assim sejam resolvidas com borracha nas costas. E é engraçado que queiram deslegitimar o movimento por ter sido ele provocado por filhinhos de papai classe-média-sofre. E criminalizar a todos eles por causa da parcela que sai quebrando tudo. Pelo amor de Deus. O problema não são os R$0,20 por si só  – que, ao contrário do que andam dizendo por aí, fazem sim a diferença no bolso de muita gente no fim do mês, principalmente no de quem não está lá para protestar. O problema é que São Paulo está cada vez menos convivível, menos humana, mais massacrante e mais extenuante a cada dia que passa. O problema é não ter os direitos humanos respeitados. O problema é não querer negociar e tentar abafar o que acontece usando a repressão pura e simples. Não é terrorismo de que se trata. É a manifestação pública em defesa da não restrição do direito de ir e vir (mas ao abrir o jornal essa não é, obviamente, a impressão que se tem). O problema é, como me disse o antropólogo Roberto Kant uma vez, que o Brasil não sabe lidar com resolução de conflito. Não sem descer o porrete, sem mandar calar a boca, sem usar de truculência. O problema é que a gente só quer “pacificar” (acho que quem mora no Morro do Alemão me daria razão) e não entender ou resolver os conflitos. É só conciliar, equalizar opiniões.

Mas que bom que elas começam a destoar em outras partes do Brasil também. Nem que lá elas também custem R$20 mil por cabeça.

(*Updating: wish I could see something like this CNN article in Brazilian mainstream media. Really.)

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